Terapeuta lista seis fatores que fazem os casamentos longos darem certo
Esta semana alguém me mandou no Instagram (me siga lá também @silviaruizmanga): "sou casada há 20 anos e não sei mais como fazer meu casamento dar certo. Estou infeliz. Me ajuda? ". Bom, em primeiro lugar, quem sou eu para ajudar alguém a ter um casamento feliz? Se bem que experiência no assunto eu até que tenho: estou no meu quarto casamento, que já dura dez anos (pretendo que ele dure para sempre). Esse é um assunto que afeta muita gente que já passou dos 45/50 anos. Como ser feliz numa relação longa? Cadê meu "felizes para sempre"? Afinal, casamento também envelhece?
Conversei com a especialista Marina Simas de Lima, psicóloga e especialista em Sexualidade Humana e em Terapia de Casal e Família que inclusive criou uma organização só para estudar e tratar do tema, o Instituto do Casal, em São Paulo. A verdade, minha gente, é que ter um casamento feliz (seja lá o que for isso para você) depende de um esforço enorme, de muito investimento de tempo, dedicação e, acima de tudo, de muita maturidade dos envolvidos. Obviamente que não existe uma "receita do casamento feliz", até porque nós somos seres complexos e cada caso é um. Mas, depois de tanta experiência vivida com tantos casais, Marina aponta alguns dos problemas mais comuns e recorrentes e soluções que podem ser muito mais simples do que parecem. O problema é fazer! Dá trabalho, mas pode ser muito transformador para o casal.
Tempo juntos
"Os casais passam muito pouco tempo juntos hoje. E, quando estão juntos, o foco de atenção é baixo. Estão juntos vendo um filme, mexendo no celular", diz Marina. Claro que a vida moderna é essa, a gente está cheio de trabalho, tarefas domésticas etc. Mas Marina ressalta que essa falta de convivência de qualidade, de realmente estar com o foco no outro, faz a gente perder a intimidade e o olhar de admiração pelo parceiro.
Então aqui vem o investimento a ser feito: definir, no meio da rotina corrida, tempos exclusivos para o casal, momentos para fazer essa reconexão. "Pode ser uma saída para jantar uma vez por semana, uma caminhada a dois, um momento só do casal, que não seja para falar de filhos, de dinheiro ou de problemas."
"Muita gente acha que vai recompor o casamento numa viagem, por exemplo, e às vezes dá tudo errado e pode ser frustrante. Não estou dizendo que isso não pode ser bom fazer uma viagem juntos, mas essa conexão tem que acontecer em meio à rotina do dia a dia também"
Respeito à individualidade
Essa é uma coisa complicada para muita gente. "Só o casamento não faz ninguém feliz. Não dá para depositar toda a nossa expectativa de felicidade da vida nele", diz a Marina. Isso quer dizer que a gente não pode abrir mão de hobbies, de saídas com amigos que não envolvem o parceiro, de poder ter "vida própria". Esse respeito à individualidade é uma coisa difícil porque envolve ciúme, cobrança pelas eventuais ausências do outro. A gente tende a achar que tudo tem que ser "o casal", a turma de amigos, os programas… Não existem mais dois indivíduos, mas um ser à parte. "Tem que existir o tempo 'nosso' e o tempo 'meu' numa relação."
Projetos em comum
Além de preservar os espaços individuais, Marina diz que é fundamental que o casal tenha projetos em comum, propósitos que os una. "Projeto em comum não pode ser só filhos. Pode ser montar uma ONG, fazer um trabalho voluntário, coisas que façam a dupla vibrar enquanto casal". Vale treinar junto para participar de uma corrida, aprender um idioma, enfim, conquistar algo como uma dupla. Isso faz com que a gente aumente a admiração pelo outro (de novo, o que é vital para uma relação feliz).
Comunicação
Esse parece básico, mas segundo Marina, muitos casais têm assuntos que são evitados e viram tabu. Desde falar de dinheiro até de sexo, às vezes não se abre diálogo num momento de calma. Muitas vezes os casais procuram um terapeuta justamente para ser um facilitador desses diálogos. Marina até desenvolveu um material de apoio que pode ser usado por casais em casa mesmo, uma espécie de jogo de cartas que traz temas para abrir as conversas que muitas vezes são tão difíceis de acontecer ("Puxa Diálogo: Casal" e "Diálogo Sim, Briga Não", ambos da editora Matrix).
Mas o fato é: não dá para não falar das coisas que incomodam, do que precisa melhorar, das discordâncias etc. Marque um dia da semana para falar sobre o que está deixando de ser dito, o que precisa ser discutido. Com calma, ouvindo o outro. Alguns dos motivos mais comuns de brigas são a bagunça e desorganização e a divisão de tarefas domésticas. E a melhor coisa é sentar para definir esses papéis e acertar os ponteiros numa hora calma e não em meio à irritação de uma briga.
Amor é casamento, sexo é paixão
Muitas vezes, com os longos anos de casamento, chega junto a fase da menopausa e da andropausa masculina (sim, o homem também tem uma fase de queda hormonal). Daí o que já era complicado, que é a queda da libido, pode ficar dramático. "A verdade é que amor requer segurança, posse, algo morno. O objeto do desejo já está conquistado e a gente começa a deixar toda a conquista para amanhã. E o desejo erótico está ligado à liberdade, ao distanciamento, ao desconhecido", diz Marina. Ou seja, em teoria, casamento tem tudo para ser um banho de água fria na libido… Mas calma! Tem jeito! E aí, de novo, tem o investimento que precisa ser feito, em fantasias, em clima, em dedicação ao tempo à dois. Já falei sobre formas práticas de aumentar a libido aqui.
Maturidade
Parece óbvio esperar que a gente tenha maturidade depois de uma certa idade. Mas o fato é que muitas vezes a gente entra em disputas com o outro quase como uma criança da quinta série. "Maturidade é saber negociar, abrir mão aqui para ganhar ali na frente, ouvir e estar atento para as necessidades e pedidos do outro. Não dá para querer ganhar sempre". Maturidade também significa entender e aceitar que aquela fase da paixão do início de uma relação é muito rápida, e acaba mesmo. Não vai voltar mais. Não adianta passar a vida casado tentando voltar para aquele estado, que é inclusive provocado por um estado químico que acontece no nosso corpo. Isso não vai acontecer. Ser maduro é ter a lidar com o presente que se apresenta.
Aproveito para dar meu depoimento pessoal: sou daquelas que gostam de casar, canceriana de tudo. Não trocaria a estabilidade, segurança e parceria que tenho hoje num casamento de dez anos por nada. Sei de todas as dificuldades que a gente enfrenta numa relação, mas sei que cada segundo de esforço por ela compensa. E isso tem que ser feito à dois. Não vem de graça. É um trabalho de jardinagem diário, de sujar a mão na terra, ter que aparar folhas mortas, de regar direito. Mas que traz flores lindas!
Renato Godá, se você estiver lendo isso, quer casar comigo de novo?
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