Angústia e deprê típicos do domingo podem piorar na quarentena; saiba lidar
Quando eu era criança sempre tinha uma sensação ruim aos domingos quando os primeiros acordes da abertura do programa Os Trapalhões tocavam na TV. Hoje em dia sinto o mesmo quando começa o Domingão do Faustão. Evito até ligar a TV no final da tarde.
Comentei esta semana no Instagram (me siga lá também @silviaruizmanga) sobre essa deprê dos domingos, que parece ter ficado ainda pior com a quarentena, com tantas notícias ruins sobre a covid-19, e recebi dezenas de mensagens de pessoas que sentem o mesmo.
O fato é que essa tal de "dominguite" (como disse uma das seguidoras) atinge a maioria das pessoas (segundo um estudo americano, 81%), principalmente a partir do cair da tarde do final de semana que vai terminando. Na verdade, a culpa dessa sensação não é do domingo, mas, sim, do dia seguinte, a malfadada segunda-feira.
"No domingo a gente tem a chamada vivência do desamparo. No final de semana nos sentimos confortáveis e amparados, sem chefe, sem professor, sem trânsito e em geral na convivência de quem a gente ama e fazendo coisas que a gente gosta. E no domingo é quando vislumbramos o fim desse amparo", diz o psicólogo clínico Otávio Campregher.
A sensação seria exatamente oposta à euforia que sentimos na sexta-feira antecipando os momentos mais prazerosos do sábado. "Domingo inclusive é o dia da semana em que acontece o maior número de tentativas de suicídio."
Esse mal-estar que a gente sente é a chamada ansiedade antecipatória que tem sintomas variados que vão desde tristeza até insônia, irritabilidade e angústia. Otávio explica que essa ansiedade é provocada pela previsão de que algo pode fugir do controle, ou seja, um sofrimento antecipado pelo que está por vir na segunda-feira. Essa mesma sensação pode ocorrer nos dois ou três últimos dias de férias. E de onde vem isso?
Os grandes culpados dessa ansiedade são antes de mais nada a escola e o ambiente de trabalho. A gente começa a rotina desde criança muitas vezes em ambientes escolares pouco acolhedores, com muita cobrança, bullying, medo de agressões dos colegas, a exigência de performar bem nas provas etc.
Evoluímos para a idade adulta em trabalhos onde a pressão é alta, existe o medo de perder o emprego, chefes opressores, clientes exigentes, ambientes hostis como um todo. Com o tempo, a gente vai acumulando experiências ruins às segundas e o domingo passa a ser antecipação pelo pior que está por vir.
"É comum inclusive as pessoas tentarem fazer esse domingo 'não acabar' ficando acordado até a madrugada vendo filmes etc., o que torna a segunda ainda pior, com cansaço acumulado", diz Otávio.
O mundo ideal, obviamente, seria atacar o problema pela raiz, criando ambientes escolares e profissionais mais compassivos e amigáveis. "Algumas empresas já começaram a ter uma preocupação com a saúde mental dos profissionais e introduzem segundas-feiras com práticas de ioga, menos carga de reuniões etc, principalmente em países nórdicos. O ideal seria a gente ter uma sexta de trabalho mais intensa e uma segunda mais leve."
Mas, como sabemos que não é tão simples mudar as escolas e o trabalho, tem algumas coisas que podemos fazer para tentar aliviar um pouco essa ansiedade dominical:
Faça atividade física: Domingo costuma ser o dia de descanso para quem faz atividade regular, mas seria justamente um bom dia para se exercitar. Ao menos uma boa caminhada já é melhor do que passar o dia no sofá. A endorfina liberada pela atividade física ajuda no bem-estar e também no sono
Coma carboidrato: Mesmo se você é daqueles que vive uma dieta mais low carb, domingo é um bom dia para aumentar a ingestão de carbo. Sabe aquela macarronada ou pizza do sábado? Reserve para o domingo. O nutriente aumenta a produção de triptofano, que por sua vez ajuda no aumento do nível de serotonina, que traz a sensação de bem-estar.
Evite lâmpadas brancas e telas: Otávio recomenda a troca das lâmpadas de led de luz branca pelas de luz amarela. Isso porque esse tipo de luz branca confunde nosso relógio biológico fazendo o corpo achar que é meio-dia mesmo quando já é noite e hora de nos preparamos metabolicamente para o sono. A melatonina, por exemplo, que é o hormônio que nos faz pegar no sono, acontece no escuro. O mesmo acontece com a luz azul emitida pelas telas de celulares. No mínimo a gente deve colocar a tela do celular no modo "night shift", que elimina a luz azul, a partir do final da tarde.
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