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Como lidar com a síndrome do ninho vazio quando os filhos saem de casa

Silvia Ruiz

12/07/2019 04h00

Crédito: iStock

Diz a lenda que a gente cria os filhos para o mundo. Sempre achei que precisava educar os meus para serem independentes, justamente para chegarem preparados a este momento da vida. Eis que chega a hora da verdade: suas crianças crescem e se vão. E temos que seguir sem eles por perto. Só não me liguei que quem também precisava estar preparada era eu! Quem me acompanha no Instagram (me siga lá também @silviaruizmanga) já deve ter reparado o quanto meus filhos são presentes no meu dia, não escondo que sou do tipo mãezona mesmo. Exageradamente mãezona.

Minha filha mais velha saiu de casa para morar sozinha aos 19. Não foi fácil, mas ainda restavam dois em casa: o do meio, de 18 anos, e um pequeno, de apenas dois, que nos exigia bastante atenção, então meio que não foi uma crise muito grande.

Agora chegou a hora do filho do meio partir, aos 24. Vai morar longe, na Europa, sem planos para voltar. Tudo certo, tudo lindo, não é isso que sonhamos para o nosso filho, afinal? Eis que, ao vê-lo arrumar as coisas para a mudança, eu e meu marido nos pegamos aos prantos. Não é exatamente tristeza. Estamos muito felizes com a decisão dele. Mas ao mesmo tempo não imaginei que o momento pudesse trazer à tona tantas emoções. Me dei conta de que a tal síndrome no ninho vazio que eu só ouvira falar, pode ser bem real para alguns pais.

É um sentimento dúbio. Porque ao mesmo tempo em que encorajamos, a partida é dolorida. E deixar de viver o cotidiano dos filhos (ainda que, sabemos, muitas vezes pode ser cansativo e um pé no saco), imaginar o dia a dia sem a companhia constante deles, dá um certo aperto no peito.

"Síndrome do Ninho Vazio é uma coisa, sentir a perda é outra. Tudo depende também do tipo de família. As que vivem uma rotina juntas, jantam, tomam café, etc. vão sentir mais a falta.", diz a psicóloga clínica Liliana Seger, Coordenadora do Grupo de Transtorno Explosivo do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da da USP. "É um final de um ciclo para os pais que pode ser bem dolorido." A síndrome não é exatamente um diagnóstico psicológico clínico, mas é um fenômeno no qual os pais vivenciam sentimentos de tristeza e perda quando os filhos saem de casa. Principalmente o último filho.

Segundo a psicóloga, em casos extremos a síndrome pode até evoluir para depressão. "Uma mãe solteira ou que abdicou da carreira só para cuidar dos filhos, por exemplo, pode ter mais dificuldade para viver a nova realidade do que uma que trabalha, que tem outras realizações além da maternidade. O mesmo serve para casais que vivem um casamento infeliz, que tinha o filho como desculpa para não ter que enfrentar a situação. "

Como lidar com o ninho vazio? Obviamente que sentir a falta dos filhos é normal. Mas, se você estiver se sentido muito triste ou com a sensação de perda, procure agir. Se puder, prepare-se antes, quando já souber que o filho vai se mudar. Fale sobre isso, faça planos com ele de como vão manter a proximidade mesmo morando em casas separadas.

Fique em contato Eu confesso, sou a mãe que fala com a filha todos os dias. Mais de uma vez ao dia. Não tenho pudor nenhum de ligar só para dar um oi, mesmo sem assunto. Mas não é isso que as mães fazem? (minha mãe sempre fez comigo e eu não entendia por que! Agora eu sei!).

Use a tecnologia a favor Liliana também sugere que os pais aproveitem os aplicativos de vídeo como Facetime ou Skype para reproduzir um momento em família quando os filhos saem para morar em outra cidade, por exemplo. "Na hora do jantar, colocar o filho à mesa e bater papo via aplicativo como se ele estivesse ali ajuda muito"

Compartilhe o que está sentindo Se achar que a coisa está além do normal, não tenha medo de pedir ajuda para um profissional, como um psicólogo. Muitas mulheres acabam vivenciando a saída dos filhos justamente junto com a menopausa, o que pode dificultar mais a situação. Dividir seus sentimentos com outros amigos passando pelo mesmo momento também pode ajudar.

Foque nas vantagens "Temos a tendência de pensar só no que falta. Mas e o que sobra? Já pensou no que te dá prazer além dos filhos?" Para Liliana, o final desse ciclo de paternidade pode ser o começo de uma redescoberta individual. Retomar coisas que não fizemos porque estávamos cuidando dos filhos, por exemplo.

Seja como for, no meu mundo ideal a família moraria toda na mesma rua, de preferência em uma vila, cada filho com sua casinha… Como isso não é possível no momento, vou enxugar as lágrimas e seguir em frente. E, Gabriel, se você estiver lendo este texto, pode se preparar para receber seus pais no sofá da sala no próximo Natal! E boa viagem! Pode voar que o mundo é seu! Estaremos sempre aqui para o que der e vier.

Sobre Autora

Silvia Ruiz é jornalista e trabalha com comunicação digital e PR. Durante mais de 15 anos atuou na cobertura de saúde, bem-estar e estilo de vida. É apaixonada por alimentação natural, meditação e práticas holísticas. Mãe do Tom, do Gabriel e da Myra, tem bem mais de 40 anos e está tentando aprender a viver bem na própria pele em qualquer idade.

Sobre o blog

O que é envelhecer hoje? Este é um espaço com informações para a geração que tem mais de 40 e não abre mão de viver uma vida plena e, principalmente, saudável, independentemente da idade. Aqui não falamos em “anti-aging”, e, sim, em “healthy aging”. Dicas de alimentação, beleza, atividade física, carreira e estilo de vida para quem busca ser “ageless”.

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