Seus cosméticos podem estar te envenenando? “Clean Beauty” prega que sim
Quando lançou sua linha de cosméticos naturais Goop em 2016, Gwyneth Paltrow chegou a comer batatas fritas mergulhadas em um pote de um dos hidratantes da marca em um talk show nos EUA para mostrar o quanto o produto era puro. Nos últimos anos, assim como a atriz americana, há uma onda enorme de consumidores migrando para cosméticos livres de ingredientes tóxicos. Essa onda tem nome: "clean beauty". Eu mesma venho fazendo escolhas mais "limpas" e inclusive mostro os produtos que estou usando e testando no Instagram (me siga lá: @silviaruizmanga).
Até alguns anos atrás, produtos de beleza naturais eram coisa de hippie e vendidos em lojinhas naturebas. Hoje já fazem parte de uma indústria milionária que vem tomando conta inclusive do mercado de luxo. A Sephora, por exemplo, criou até um selo para ajudar os consumidores a saber quais produtos da loja são livres de ingredientes tóxicos (chama-se "Clean at Sephora").
E a tendência já começa a ganhar força no Brasil. A Biossance, uma das marcas de clean beauty mais famosas do mundo, aportou por aqui no ano passado e surpreendeu a empresa com o sucesso. "Tivemos duas vezes falta de estoque devido ao sucesso de vendas. Começamos com apenas cinco produtos e agora vamos chegar a 12 até junho", comemora a Camila Farnezi, diretora de marketing da marca para a América Latina. O grande desafio, segundo ela, é desenvolver produtos eficientes e que ao mesmo tempo sejam seguros. "Não adianta ser limpo, se não der o resultado que o consumidor espera. E isso só se consegue com muita pesquisa e tecnologia", diz a executiva.
Mas afinal o que é clean beauty?
Basicamente, são produtos de higiene pessoal e beleza livres de ingredientes tóxicos ou que possam causar algum dano ao nosso organismo ou ao meio ambiente. "São elementos que são reconhecidos como estranhos e podem causar algum dano ou o organismo responder mal a eles", diz Mika Yamaguchi, farmacêutica e cosmetóloga.
A lista inclui uma série de ingredientes usados na indústria há anos como conservantes, formadores de espuma e até fragrâncias com nomes como parabenos, ftalatos, sulfatos (eu sei, é complicado, eu também faltei a essa aula de química). Alguns deles são considerados cancerígenos, outros chamados disruptores endócrinos (podem interferir no nosso sistema hormonal), há ainda alérgenos e até os que podem ser tóxicos para os neurônios. Sabe aquela escova progressiva que deixa os cabelos sedosos e lisos? Doze marcas conhecidas de escova progressiva foram testadas pela Proteste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor) em 2018 e nenhuma foi aprovada. A presença de formol nesses produtos oferece risco de danos ao sistema nervoso, ao sistema respiratório e até de câncer. Você pode estar pensando: "Ah, mas tudo causa câncer, me deixe fazer minha progressiva em paz!". O problema é que não é só a progressiva, é o todo, é a quantidade de produtos tóxicos aos quais estamos expostos diariamente e que quase sempre têm efeito acumulativo no corpo.
Liane Beringhs, médica especialista em nutrologia e homeopatia, alerta para fato de estarmos constantemente expostos a esses elementos no dia a dia sem nos darmos conta "Quem mora em São Paulo, por exemplo, já tem cinco anos a menos de expectativa de vida devido à poluição". Soma-se a isso outros venenos que ingerimos com os alimentos (o Brasil é campeão mundial do uso indiscriminado de agrotóxicos). E aí, além de tudo isso ainda usamos uma quantidade enorme de produtos na pele, no cabelo etc. "Principalmente as mulheres, que além de vários cremes usam maquiagem rotineiramente. Os batons, por exemplo, levam quase sempre metais tóxicos para fixar a cor. Imagine a quantidade a que uma mulher está exposta ao longo de uma vida", diz a médica.
Lembrando que nossa pele é o maior órgão do corpo, capaz de absorver tudo que é aplicado nela e levar para a corrente sanguínea e para os outros órgãos. Ou seja, para o bem e para o mal, é uma porta de entrada do nosso organismo e deveríamos nos preocupar tanto quanto com o que comemos.
Polêmica
O tema é controverso, porque faltam estudos conclusivos para definir o que é ou não tóxico (e em que quantidade, afinal muitas vezes o que define toxicidade é a quantidade do veneno, defendem alguns especialistas). A União Europeia lidera esse movimento de banir ingredientes considerados tóxicos, enquanto os EUA são bem menos restritivos. Nos últimos anos mais de 1.300 substancias foram proibidas nos cosméticos na Europa, enquanto apenas 11 nos EUA. "Para os europeus, se há dúvida quanto à segurança, eles optam pela proibição", diz Mika. "A Alemanha, principalmente, lidera esse movimento. Muitas vezes, substâncias proibidas por lá levam anos até serem proibidas por aqui". No Brasil, o terceiro maior mercado de cosméticos do mundo, é a Anvisa que regulamenta esses produtos, mas nem sempre a fiscalização consegue impedir que produtos tóxicos cheguem até o consumidor, como prova o tal estudo com as escovas progressivas.
Preocupação com o meio ambiente
Além da saúde humana, o movimento clean beauty prega o fim de produtos que podem agredir o meio ambiente, como o caso das microesferas usadas em produtos esfoliantes para pele e branqueadores abrasivos em pastas dentárias. Como são muito pequenas, elas não são contidas em filtros e grades das estações de tratamento de esgoto, seguindo direto para os cursos de água e poluindo rios e mares. O Rio de Janeiro foi o primeiro Estado a proibir o uso no Brasil. As esferas podem ser consumidas por animais marinhos, causando sua morte ou contaminação e chegado à nossa mesa também.
Como se proteger
Não precisa correr para o banheiro e jogar fora todos os cosméticos que você usa. A questão é repensar a quantidade de produtos que usamos todos os dias. Precisamos de todos eles mesmo? O segundo passo é procurar marcas que já eliminaram os ingredientes tóxicos de suas fórmulas.
Ao comprar novos produtos, você pode fazer uma busca no banco de dados de cosméticos seguros do EWG (grupo de trabalhos ambientais, na sigla em inglês). Muitos produtos vendidos em farmácias no Brasil estão na lista deles e você pode ver se são "limpos".
No Brasil existem marcas nacionais e importadas que são consideradas próprias para clean beauty: Baims, Weleda, Biossance, Simple Organic, Cativa, Souvie, FaceIt, Surya, Cris Dios Organics, CARE Natural Beauty. No exterior, há marcas famosas como Drunk Elephant, Boscia, Supergood, Tata Harper, Lawless, RMS, Goop.
Alguns dos mais comuns ingredientes controversos:
Sulfatos
Formam a espuma do shampoo, por exemplo. No entanto, podem irritar a pele e retirar dela e do cabelo a oleosidade natural, que são protetores naturais.
Parabenos
São os conservantes mais usados e mais baratos do mercado. Evitam a proliferação de mofo e bactéria nos produtos que ficam na prateleira, ou seja, tem uma função importante. No entanto, estudos mostram que eles mimetizam o hormônio estrogênio no organismo e podem causar problemas de saúde, incluindo câncer de mama.
Formaldeído
Também usado como conservante e encontrado desde em produtos para as escovas progressivas até em esmaltes e maquiagens. Está relacionado ao câncer, além de provocar alergia e ser prejudicial ao sistema imunológico (imagine para os cabeleireiros que passam o dia expostos ao produto!).
Tolueno
Substância derivada do petróleo e de alcatrão de carvão. Encontrado em esmaltes e descolorantes e tintas para cabelos. É um solvente potente conhecido por afetar o sistema respiratório, causar náusea e irritar a pele. Gestantes devem ter cuidado redobrado com essa substância pois aumenta o risco de má formação fetal.
Ftalatos
São substâncias químicas utilizadas para melhorar a textura de alguns produtos. No caso dos cosméticos, são encontrados em esmaltes de unha, perfumes, loções e em sprays de cabelo. São disruptores endócrinos e relacionados ao câncer de mama.
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