Reposição hormonal: será que é para você? Conheça minha experiência
Silvia Ruiz
05/10/2018 04h00
Crédito: iStock
Alguns meses atrás notei que algo estava errado comigo. Estava vivendo uma espécie de falta de memória atordoante. Na hora de sair para o trabalho, entrava e saía de casa umas cinco vezes, porque sempre esquecia alguma coisa (a chave, os óculos, até a bolsa!). Perdia meu celular o dia inteiro (se bem que isso eu fiz a vida inteira). Andei até falando sobre isso no meu Instagram achando que era estresse.
Comentando com uma amiga mais velha, ela me deu o alerta: "vá checar seus hormônios, eu tive exatamente isso no período pré-menopausa". Mas eu havia feito um check-up seis meses antes e estavam todos normais! Mesmo assim, lá fui eu para uma nova bateria de exames.
Bingo: meus hormônios estavam "no chão". Essa fase, em que a gente ainda fica menstruada (ou com alguma irregularidade), mas apresenta queda hormonal, tem inclusive um nome bem feio: climatério (não confunda com menopausa). Pensei: mas como isso foi acontecer comigo? E respondi a mim mesma: querida, você tem 48 anos! Esqueceu?
Menopausa é a última menstruação, que geralmente ocorre por volta dos 50 anos. Já o climatério é o conjunto de sintomas que surgem antes e depois da menopausa, causados, principalmente, pelas variações hormonais típicas desse período, e que podem ocasionar uma série de flutuações no ciclo menstrual e vários sintomas podem vir junto.
Na realidade, o climatério começa por volta dos 41 anos de idade, estende-se até mais ou menos os 65 anos e é marcado por pequenas alterações físicas e psicológicas. Dentro dessa grande margem de tempo, ocorre a menopausa (que só pode ser determinada depois que a mulher passou pelo menos um ano sem menstruar). Antecedendo o episódio da menopausa, temos a perimenopausa, período em que há alterações hormonais importantes, especialmente nos níveis de estrogênio e progesterona. Nessa fase, a vulnerabilidade feminina é maior aos sintomas físicos e psíquicos. Entre os físicos destacam-se ondas de calor intenso e, entre os psíquicos, tristeza, desânimo e irritabilidade e flutuação do humor. Pode acontecer ainda insônia. Ou seja, está fácil para as mulheres, né?
No meu caso, o problema era só a memória e uma certa falta de clareza mental, mas estava me incomodando muito. Sob orientação médica, obviamente, optei por fazer a reposição hormonal. Eu pesquisei muito o assunto antes de decidir. Mas foi em um bate papo com mulheres da minha idade na academia, que percebi que ainda existe muita confusão sobre o assunto. Ouvi desde "não acredito em reposição hormonal" até uma dando dica com o nome da marca do medicamento que estava tomando.
Conversei com a endocrinologista Vânia Assaly e aqui vão algumas dúvidas que ela me esclareceu:
Riscos e cuidados com a reposição hormonal
Junto aos benefícios (melhorar os sintomas, ajudar a prevenir osteoporose, reduzir a perda de músculos, entre eles), há riscos associados. Esses riscos dependem de alguns fatores. Entre eles, o histórico familiar. Câncer de mama na família, por exemplo, é contraindicação. Trombose ou doenças cardíacas também exigem investigação extra.
"O tratamento deve ser extremamente bem avaliado e individualizado", diz Vânia. "Nós devemos adotar a menor dose satisfatória para melhorar os sintomas do paciente. Costumo dizer que hormônio demais causa anarquia no corpo." Fica aí o alerta para muitas mulheres que estão entrando na onda da reposição com "chips" da beleza, com doses altas de hormônios e nem sempre individualizadas.
"Outra coisa importante a considerar é que existe uma janela de oportunidade para o início do tratamento. Quando a menstruação começa a falhar ou quando começam ondas de calor é o momento em que a reposição deve ser introduzida caso seja recomendada", diz Vânia. A médica diz ainda que o estilo de vida saudável também influencia no processo. Cuidado com a alimentação e exercícios físicos são fundamentais nessa fase da vida.
Gel para reposição hormonal – Crédito: iStock
Minha experiência
No meu caso, foi recomendado um hormônio bioidêntico (que é o mais parecido com o que temos naturalmente e mais bem recebido pelo nosso corpo) do tipo transdérmico (um tipo de gel aplicado na pele). Os tipos de hormônio e a dose foram prescritos especificamente para mim, com base em meu histórico familiar e extensos exames. Mas existem várias formas de administração. De fato, a memória melhorou e me sinto super bem. E sigo fazendo acompanhamento médico. Até aqui minha reposição tem sido bem-sucedida.
Resumo da ópera: reposição pode ser muito útil e nos ajudar a viver essa fase da vida com mais potência e plenitude, mas é uma decisão que tem que ser tomada com muito cuidado e com acompanhamento médico especializado. O que funciona para a sua amiga, pode ser um desastre para você.
O que mais me chamou atenção neste processo foi me dar conta do tamanho do preconceito da sociedade (e de nós mesmas, muitas vezes), com essa fase da mulher. "Louca, histérica, passada" são alguns termos que já vi sendo usados por aí para retratar mulheres mais velhas. Tratar esse processo como algo natural da vida, já é um grande passo para a gente se sentir bem com ele.
Sobre Autora
Silvia Ruiz é jornalista e trabalha com comunicação digital e PR. Durante mais de 15 anos atuou na cobertura de saúde, bem-estar e estilo de vida. É apaixonada por alimentação natural, meditação e práticas holísticas. Mãe do Tom, do Gabriel e da Myra, tem bem mais de 40 anos e está tentando aprender a viver bem na própria pele em qualquer idade.
Sobre o blog
O que é envelhecer hoje? Este é um espaço com informações para a geração que tem mais de 40 e não abre mão de viver uma vida plena e, principalmente, saudável, independentemente da idade. Aqui não falamos em “anti-aging”, e, sim, em “healthy aging”. Dicas de alimentação, beleza, atividade física, carreira e estilo de vida para quem busca ser “ageless”.