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Ageless

Sim, estou fazendo 50 anos. Sim, estou pronta para eles

Silvia Ruiz

19/06/2020 04h00

iStock

Hoje me lembrei de uma frase do David Bowie: "Envelhecer é um processo extraordinário em que você se torna a pessoa que sempre deveria ter sido." No próximo domingo eu completo 50 anos. Comecei a escrever o Ageless em 2018 com isso em mente: o que significa ter 40, 50 ou 60 anos hoje? O número importa? Nos define? O que é importante de verdade para envelhecer de forma positiva? Fui além e, apesar da timidez, abri um perfil no Instagram para me expor diariamente e trocar com milhares de mulheres que estão vivendo as mesmas questões (aliás, vem também @silviaruizmanga). Menopausa, filhos, amores, saúde, beleza…  Tem sido uma experiência e tanto. Talvez por isso, chego aqui, no quinto andar, me sentindo pronta para ele.

Chegar a esse marco em meio à loucura que estamos vivendo com a pandemia me fez refletir ainda mais sobre isso. O que realmente importa na vida? O que a gente tira de tudo isso? Os meus 40 anos me ensinaram a ser mais gentil comigo mesma. Comecei a ver transformações físicas, mentais, a rever minhas relações com amigos e familiares. Me casei de novo, tive um filho. O tempo passou voando. E agora realmente sinto que estou me tornando a pessoa que sempre deveria ter sido, como bem disse meu ídolo. As coisas parecem ter ficado mais simples.

Me sinto infinitamente melhor hoje profissionalmente, por exemplo, do que me sentia aos 30. Aliás, o estudo "A vez do feminino" coordenado pela antropóloga Mirian Goldenberg, professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), mostrou que mulheres entre 50 e 64 anos são mais realizadas e confiantes tanto em comparação às colegas mais jovens quanto aos homens da mesma idade. E revelou ainda que, essa faixa etária, o que as mulheres querem mesmo é liberdade.

É um processo fácil chegar até aqui? De jeito nenhum! De alguma forma me lembra um pouco o processo de transição que a gente passa durante a adolescência. Penoso, mas de onde saímos melhores. O que eu tenho aprendido?

A dizer não

É preciso tempo para finalmente se conhecer o suficiente e saber o que a gente suporta e não suporta na vida. Nas relações com amigos, no trabalho, no casamento. E também não preciso comparecer a todos os eventos para os quais sou convidada, nem assistir a série mais popular do momento só porque todo mundo está falando dela.  Ufa, aprender a dizer não é uma libertação.

A tratar bem do meu corpo e da mente

Eu já fui muito displicente e também já fui muito severa com o meu corpo. Já fui de comer compulsivamente a dietas restritivas. De extremismos que só me faziam mal de um jeito ou de outro.

O tempo me ajudou a perceber que a gente tem que ser gentil com nosso corpo. Cuidar dele com equilíbrio. Fazer atividade física (principalmente musculação) já não é uma opção, é questão de viver sem dores nos joelhos, nas costas etc. Mesmo não gostando muito, me comprometo com isso pelo menos 4 vezes por semana. Mas sem exageros.

Também cuido da dieta comendo muitos vegetais, gorduras boas, pouca farinha e quase nenhum açúcar. Os bons drinques que sempre adorei? Ficaram para ocasiões especiais (já fui de beber toda semana, mas hoje sei que não dá mais). Em compensação, a meditação é minha companheira diária.

A cuidar do casamento

Demorei algumas décadas (e três casamentos) para entender que relacionamento é algo do qual a gente se ocupa. Não basta apenas estar nele, é preciso trabalhar por ele. Harmonia e cumplicidade não vem só do amor, de afinidades. É preciso estar atento ao outro sempre, olhar nos olhos, sair das telas. Aprendi a pedir desculpas e a desculpar.

A não deixar de aprender e começar coisas novas

Meus filhos gostam de tirar sarro quando me veem tentando decifrar os filtros do TikTok. Amigos me questionaram por que eu resolvi virar "blogueira depois de velha". Quem foi que criou esses limites de idade para qualquer coisa?

Acabei de terminar um curso de aromaterapia e foi uma das coisas mais legais que fiz nos últimos anos. Ficar velho é deixar de aprender. E para isso não existe idade. Tá cheio de gente velha com 30 anos.

A não ter que ser perfeita em tudo

Mãe perfeita, profissional perfeita, cabelo perfeito, pele perfeita. Nós mulheres passamos a vida tentando atingir a nota máxima em tudo. Já me cobrei muito e me senti culpada durante anos por não atingir minhas próprias expectativas físicas, profissionais e maternas. Hoje em dia o que eu mais digo para mim mesma é: calma! Não dá para ter tudo, e está tudo bem! Já deu de perfeição. A pele não será perfeita, a barriga, o jantar das crianças… E segue o barco!

A ter a pele, o cabelo ou o guarda-roupa que eu quiser

Fazer ou não fazer botox? Cortar ou não a franja? Vestir a calça skinny ou a pantalona elegante? Deixar os fios brancos ou pintar o cabelo? Usar ou não batom vermelho? Estamos em 2020 e é impressionante o quanto nós mulheres ainda nos cobramos a seguir determinados padrões que sabe-se lá por que enfiamos na cabeça.

Alguém no século 18 inventou que, depois dos 40, certas roupas, atitudes e até cortes de cabelo não pegam bem. Ou que envelhecem. Taí uma regra que eu não quero seguir. Está combinado que a gente veste o que quiser, cuida da beleza como achar que nos convém e ninguém tem nada com isso? (e, sim, eu tenho franja e uso botox, mas não curto batom vermelho.)

Por fim, pare de repetir que 50 são os novos 40. Cinquenta são os novos 50! (ah, e a pele perfeita de 100% das influencers que você vê nas redes sociais é filtro).

Sobre Autora

Silvia Ruiz é jornalista e trabalha com comunicação digital e PR. Durante mais de 15 anos atuou na cobertura de saúde, bem-estar e estilo de vida. É apaixonada por alimentação natural, meditação e práticas holísticas. Mãe do Tom, do Gabriel e da Myra, tem bem mais de 40 anos e está tentando aprender a viver bem na própria pele em qualquer idade.

Sobre o blog

O que é envelhecer hoje? Este é um espaço com informações para a geração que tem mais de 40 e não abre mão de viver uma vida plena e, principalmente, saudável, independentemente da idade. Aqui não falamos em “anti-aging”, e, sim, em “healthy aging”. Dicas de alimentação, beleza, atividade física, carreira e estilo de vida para quem busca ser “ageless”.

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