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Angústia e deprê típicos do domingo podem piorar na quarentena; saiba lidar

Silvia Ruiz

22/05/2020 04h00

iStock

Quando eu era criança sempre tinha uma sensação ruim aos domingos quando os primeiros acordes da abertura do programa Os Trapalhões tocavam na TV. Hoje em dia sinto o mesmo quando começa o Domingão do Faustão. Evito até ligar a TV no final da tarde.

Comentei esta semana no Instagram (me siga lá também @silviaruizmanga) sobre essa deprê dos domingos, que parece ter ficado ainda pior com a quarentena, com tantas notícias ruins sobre a covid-19, e recebi dezenas de mensagens de pessoas que sentem o mesmo.

O fato é que essa tal de "dominguite" (como disse uma das seguidoras) atinge a maioria das pessoas (segundo um estudo americano, 81%), principalmente a partir do cair da tarde do final de semana que vai terminando. Na verdade, a culpa dessa sensação não é do domingo, mas, sim, do dia seguinte, a malfadada segunda-feira.

"No domingo a gente tem a chamada vivência do desamparo. No final de semana nos sentimos confortáveis e amparados, sem chefe, sem professor, sem trânsito e em geral na convivência de quem a gente ama e fazendo coisas que a gente gosta. E no domingo é quando vislumbramos o fim desse amparo", diz o psicólogo clínico Otávio Campregher.

A sensação seria exatamente oposta à euforia que sentimos na sexta-feira antecipando os momentos mais prazerosos do sábado. "Domingo inclusive é o dia da semana em que acontece o maior número de tentativas de suicídio."

Esse mal-estar que a gente sente é a chamada ansiedade antecipatória que tem sintomas variados que vão desde tristeza até insônia, irritabilidade e angústia. Otávio explica que essa ansiedade é provocada pela previsão de que algo pode fugir do controle, ou seja, um sofrimento antecipado pelo que está por vir na segunda-feira. Essa mesma sensação pode ocorrer nos dois ou três últimos dias de férias. E de onde vem isso?

Os grandes culpados dessa ansiedade são antes de mais nada a escola e o ambiente de trabalho. A gente começa a rotina desde criança muitas vezes em ambientes escolares pouco acolhedores, com muita cobrança, bullying, medo de agressões dos colegas, a exigência de performar bem nas provas etc.

Evoluímos para a idade adulta em trabalhos onde a pressão é alta, existe o medo de perder o emprego, chefes opressores, clientes exigentes, ambientes hostis como um todo. Com o tempo, a gente vai acumulando experiências ruins às segundas e o domingo passa a ser antecipação pelo pior que está por vir.

"É comum inclusive as pessoas tentarem fazer esse domingo 'não acabar' ficando acordado até a madrugada vendo filmes etc., o que torna a segunda ainda pior, com cansaço acumulado", diz Otávio.

O mundo ideal, obviamente, seria atacar o problema pela raiz, criando ambientes escolares e profissionais mais compassivos e amigáveis. "Algumas empresas já começaram a ter uma preocupação com a saúde mental dos profissionais e introduzem segundas-feiras com práticas de ioga, menos carga de reuniões etc, principalmente em países nórdicos. O ideal seria a gente ter uma sexta de trabalho mais intensa e uma segunda mais leve."

Mas, como sabemos que não é tão simples mudar as escolas e o trabalho, tem algumas coisas que podemos fazer para tentar aliviar um pouco essa ansiedade dominical:

Faça atividade física: Domingo costuma ser o dia de descanso para quem faz atividade regular, mas seria justamente um bom dia para se exercitar. Ao menos uma boa caminhada já é melhor do que passar o dia no sofá. A endorfina liberada pela atividade física ajuda no bem-estar e também no sono

Coma carboidrato: Mesmo se você é daqueles que vive uma dieta mais low carb, domingo é um bom dia para aumentar a ingestão de carbo. Sabe aquela macarronada ou pizza do sábado? Reserve para o domingo. O nutriente aumenta a produção de triptofano, que por sua vez ajuda no aumento do nível de serotonina, que traz a sensação de bem-estar.

Evite lâmpadas brancas e telas: Otávio recomenda a troca das lâmpadas de led de luz branca pelas de luz amarela. Isso porque esse tipo de luz branca confunde nosso relógio biológico fazendo o corpo achar que é meio-dia mesmo quando já é noite e hora de nos preparamos metabolicamente para o sono. A melatonina, por exemplo, que é o hormônio que nos faz pegar no sono, acontece no escuro. O mesmo acontece com a luz azul emitida pelas telas de celulares. No mínimo a gente deve colocar a tela do celular no modo "night shift", que elimina a luz azul, a partir do final da tarde.

Sobre Autora

Silvia Ruiz é jornalista e trabalha com comunicação digital e PR. Durante mais de 15 anos atuou na cobertura de saúde, bem-estar e estilo de vida. É apaixonada por alimentação natural, meditação e práticas holísticas. Mãe do Tom, do Gabriel e da Myra, tem bem mais de 40 anos e está tentando aprender a viver bem na própria pele em qualquer idade.

Sobre o blog

O que é envelhecer hoje? Este é um espaço com informações para a geração que tem mais de 40 e não abre mão de viver uma vida plena e, principalmente, saudável, independentemente da idade. Aqui não falamos em “anti-aging”, e, sim, em “healthy aging”. Dicas de alimentação, beleza, atividade física, carreira e estilo de vida para quem busca ser “ageless”.

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